sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O BEIJA-FLOR E O SONHO

Heitor Antônio da Silva, Reitor da Faculdade Redentor: sonhos são para serem realizados.

HEITOR, O BEIJA-FLOR E O SONHO
Nino Bellieny
Desde menino olhando mais o céu do que o chão, parecia flutuar e não caminhar como todos os meninos nascem para fazer: correr, rodar pião, jogar bola e  baleba. Ele, não. Gostava mesmo era das coisas do ar, dos passarinhos,  das folhas soltas bailando das árvores ao gramado e principalmente, de aviões. Ah, os aviões! Grandes sonhos de metal passando pelo quintal da casa, sob a rota da base aérea ali perto. Dizia para a mãe: “ Um dia eu vou voar” e ela sorrindo, respondia: “ deixa disso menino, voar é para as águias.” . Talvez o coração de mãe já adivinhasse o destino do filho. Voar muito, voar além da imaginação, feito as águias poderosas riscando o azul.
Ele nascera para ir acima das nuvens. Estava escrito no leme de algum aeroplano, nas hélices de um helicóptero, nas turbinas de um jato. Estudou e trabalhou, trabalhou e estudou, horas sem dormir, não dormindo, mas, sonhando, sonhando, mas, trabalhando e pondo os olhos aonde poucos miram. Aquele ponto invisível onde começa a Linha do Horizonte e termina a Linha do Impossível.
O tempo, esta outra máquina voadora,  levou-lhe aos lugares mais distantes do país e em cada avião viajado, um pedacinho de antiga vontade ia sendo alimentado. Ainda teria o seu avião. Pilotado por ele. Ele, o menino voador, de verdade. Real e confiante.
Uma tarde qualquer, destas de chuva e vento, ao entrar em um prédio, encontrou um beija-flor, caído, tonto por ter batido de frente com uma vidraça. Pegou o bichinho com carinho, soprou-lhe palavras secretas, reanimou-lhe e o colocou no beiral, deixando pronto para, de novo, voar. Continuou seu caminho e passos adiante, olhou para trás. O beija-flor, ainda meio zonzo, também olhava para ele, o pescocinho curvado, curioso e agradecido, um imagem sagrada e  bela na zoeira da cidade grande. Comoveu-se, riu sozinho e guardou no álbum da memória a imagem da gratidão.
Pouco tempo depois,  o desejo também guardado por anos e anos tornou-se real.
Conseguira seu brevê. Depois de longas aulas de pilotagem profissional, poderia finalmente voar pelas próprias asas, cortar a imensidão, furar as nuvens de algodão–doce e ir aonde quisesse!
Agora, lá no mais alto dos sonhos de menino, à cada voo,  um companheiro não o abandona , ainda que somente dentro da lembrança. O beija-flor agradecido. Depois dele, voar, finalmente tornara-se possível. E o homem feito, de novo fazia-se menino.